Um Bolsonaro demonstrando comoção desembarcou de sobrevoo sobre Brumadinho, horas depois da ruptura da barragem da Vale.
Mas os “dejeitos” de uma das maiores tragédias do País – escavada pela negligência do Estado para fiscalizar e punir a arriscada atividade mineradora – terão impacto para alterar a política ambiental do Governo?
Até aqui, os sinais emitidos por Bolsonaro e sua turma correm no sentido da enxurrada tóxica da Vale, empurrando o meio ambiente ladeira abaixo dos interesses nacionais.
Sinalizou assim ao tentar engavetar o ministério.
E seguiu apontando nesta direção ao criar uma pasta esvaziada e monopolizada pelos interesses do agronegócio.
E, para não sobrar dúvidas sobre o ângulo que enxerga essas demandas, vem despejando farta literatura twitiana em que apresenta a pauta ambiental como uma “zoeira de esquerda” – termo utilizado pelo ex-presidente FHC em sua tentativa de mudar o foco do novo governo e fazê-lo enxergar a necessidade de alinhar desenvolvimento com sustentabilidade.
O Bolsonaro pré-Brumadinho não via a coisa dessa forma.
Sua lógica – exposta de forma cristalina – sempre foi a de adaptar o meio ambiente ao sistema produtivo. Jamais o contrário. Tampouco a convergência de interesses.
“Vocês, do meio ambiente, não sabem o que é produzir. Não sabem o quanto é difícil ser agricultor. O produtor rural é obrigado a se submeter aos caprichos de alguns fiscais. Me parece que 40% das multas vão pra ONG’s, não sei se é verdade. Se for, vocês sabem muito bem o que eu vou fazer. Não vai ter ativismo”, disse ao anunciar a indicação da ruralista Tereza Cristina para a Agricultura.
Em seu plano de governo, registrado no Tribunal Superior Eleitoral, meio ambiente é mencionado uma única vez ao tratar sobre “a nova estrutura federal agropecuária”.
Talvez o Bolsonaro que viu de perto a extensão do dano que a negligência ambiental provoca possa reajustar seu foco.
Esperemos que sim.
Pois se cumprir o script, o que já é ruim ficará (muito) pior.